Sandra Amaral
O processo de envelhecimento humano ocorre através do declínio gradual das atividades orgânicas com alterações fisiológicas, quer dizer, do funcionamento do corpo, em vários sistemas, associado à diminuição da capacidade de autorregeneração, por exemplo, o impacto de uma simples gripe é muito maior na velhice do que na juventude. Temos acompanhado idosos demorarem até dois meses para sarar de uma gripe, que antes três ou quatro dias eram o suficiente.
Uma das principais alterações do envelhecimento que vai gerar adaptações para o resto da vida, é a perda da massa muscular, que é substituída pelo aumento do tecido adiposo, ou seja, da gordura, que faz o indivíduo ficar mais lento, mais fraco, com menos equilíbrio e mais gordinho. Outra perda diretamente ligada a esta é a do conteúdo mineral dos ossos como a osteoporose, tornando os idosos mais propensos a quedas e fraturas, o que traz um grande impacto em termos de tempo de reabilitação e isolamento social.
Se um indivíduo passou a vida inteira dizendo que não gosta de fazer atividade física, na velhice vai ter que aprender a gostar, sob pena de se tornar dependente rapidamente. E muitas vezes ele não se adapta a atividades físicas em grupo, o que torna a fisioterapia quase que indispensável nesta fase, pois além da necessidade de exercícios específicos para o idoso, há também o grande cuidado necessário para sua realização e ainda a monitorização e tratamento das dores que ele frequentemente apresenta, sendo bem manejados pelo profissional fisioterapeuta.
Em geral o idoso aprecia muito a fisioterapia, sendo para ele um momento de se cuidar, descontrair, desabafar, além de sentir melhoras de dificuldades motoras e dores corporais. Normalmente, o idoso teve uma vida inteira de trabalho e dedicação a casa e família, proporcionando formação e apoio material e emocional aos filhos. Chegando nesta fase da vida, sente que ele próprio tornou-se uma prioridade para si mesmo e se não se cuidar, perderá sua autonomia e independência e terá que receber cuidados de alguém, o que pode ser muito frustrante para alguém que sempre dirigiu a própria vida.
A fisioterapia desempenha um papel fundamental nesta fase, porque traz em sua atuação várias ferramentas que possibilitará ao idoso manter-se autônomo, independente, saudável e funcional. Da mesma forma que se faz visitas preventivas a especialistas como ginecologistas, cardiologistas, o sistema musculoesquelético que é cuidado por um fisioterapeuta, deve ser cuidadosamente investigado e preventivamente tratado. Este é um dos maiores ganhos que se pode ter no envelhecimento, ao invés de medicar dores que não foram prevenidas.
Mas, para alguns idosos, é justamente neste momento, em que ele precisando destes cuidados e podendo tê-los, tem que abrir mão deles para prover as necessidades de filhos adultos e não raro, netos, amparando a terceira geração depois de si. Então, vemos o idoso abdicando de suas sessões de fisioterapia, para direcionar seus recursos para atender o filho adulto que está desempregado há anos, que mesmo assim resolveu casar-se e ter um filho, ou para o outro que decidiu sair do plano de saúde porque queria um carro novo e ficou doente, necessitando de internação.
Ou ainda para a filha que resolveu sair de casa para morar sozinha, mas não consegue pagar o aluguel, ou para a outra filha que morando ainda com ele, resolveu deixar o emprego para fazer a terceira faculdade de sua vida com o sustento dos pais. Ou o outro filho que largou tudo para experimentar uma nova vida no exterior, formou família e sem calcular gastos, agora precisa da ajuda dos pais. E ainda por motivos outros como, a viagem dos sonhos, a festa do casamento dos filhos, o equipamento de última geração que algum neto ou filho quer etc.
Parece que rapidamente o idoso, acostumado a prover por toda uma vida, coloca-se em último lugar para poder atender situações menos urgentes e nobres do que sua própria e lícita necessidade de envelhecer bem, com força, alegria, saúde e vontade de viver.
Esperamos que o idoso, à medida que envelheça, possa colocar limites em situações que já não são mais de sua alçada e de forma serena e firme, possa tomar decisões sensatas em prol de si mesmo e de seu futuro.