Leandro dos Santos Afonso
Uma situação que sempre me gera curiosidade ao entrar em uma academia de ginástica é me deparar com alguma pessoa com a camisa com os dizeres “Personal Trainer”. Me pergunto qual a verdadeira formação desse indivíduo, afinal, não há uma graduação para formar o Personal Trainer, há basicamente a graduação em Educação Física com a habilitação em licenciatura ou bacharelado, contudo, recebo uma boa quantidade de cartões de visita nos quais os seus donos se identificam com o título de Personal Trainer. Bem, essa introdução é para iniciar um questionamento, afinal, o Personal Trainer é uma profissão ou uma especialização da Educação Física ? Faço essa pergunta pois, o próprio Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) vem aumentando cada vez mais a divulgação para que os seus membros se identifiquem como Profissionais de Educação Física e posteriormente agreguem a sua especialidade. Eu particularmente prefiro a identificação como Professor de Educação Física, termo esse que nunca me incomodou, pelo contrário, confesso que ainda hoje ao me recordar do momento da minha colação de grau na universidade, ao cumprimentar dois Professores (com letra maiúscula) dos quais eu nutria e ainda nutro profunda admiração (Prof. Publio e Prof. Georgios) senti um profundo orgulho por essa conquista (fui o primeiro membro da minha família em ingressar e concluir o ensino superior), e, as palavras que foram proferidas naquele dia ainda ressoam na minha mente, as quais celebravam a relevância da missão de um Professor de Educação Física.
Lógico, compreendo a inclinação do CONFEF/CREF em divulgar o termo Profissional de Educação Física, pois dessa maneira abrange também os provisionados, desse modo, abarca todos os indivíduos registrados no sistema em questão. Assim, essa busca por reduzir a utilização de outros termos tende a ganhar cada vez mais força, o que pode ser extremamente interessante. Voltemos ao inicio desse texto, na parte em que eu compartilhava da minha curiosidade ao me deparar com alguém se identificando como Personal Trainer, bem, esse Personal Trainer é primeiramente graduado ou provisionado ? Se a resposta for provisionado, isso denota que ele já exercia tal função antes da formulação do sistema CONFEF/CREF, e desse modo, obteve o direito de se registrar na categoria de provisionado mesmo não possuindo a formação em um curso superior, mas, com a clara distinção de atuação restrita para essa “modalidade”. Agora, se a resposta do indivíduo for graduado em Educação Física, ainda há outra questão, a graduação tinha como habilitação o bacharelado ? Em afirmativo, ótimo, mas, e se, a resposta for licenciatura. Aí muda a situação, pois em tese, a preparação de um licenciado em Educação Física é para atuar no ensino formal, dessa maneira, ele não deveria estar no ambiente de academias de ginástica, contudo, talvez essa situação possa ser observada em algum local (talvez você que lê esse texto já tenha se deparado com essa situação), que em caso de fiscalização assumiria o risco de notificação por parte do CREF. E ainda há a possibilidade da resposta do indivíduo vestindo a camisa de Personal Trainer ser “sou estudante de Educação Física”, ou seja, mais uma situação para se pensar seriamente.
Chegamos onde eu queria, como o termo Personal Trainer está banalizado, chega-se ao ponto de muitas pessoas que não possuem o devido preparo ou formação se apresentarem como “Personal Trainer”, assim, fica desafiador para a sociedade compreender o real significado desse termo. Com isso, vejo que uma possibilidade mais adequada seja a identificação da profissão e área de aprofundamento (o CONFEF/CREF já sugeriu isso em uma de suas publicações). E essa maneira de identificação não seria novidade, pois em outras profissões é habitual essa forma, como por exemplo, o médico cardiologista, o advogado trabalhista, entre outros. Pensem comigo, o caso do bacharel em medicina, ao término da sua graduação ele já está legalmente habilitado para o exercício da medicina (com o registro no Conselho Regional de Medicina), mas mesmo assim ele busca o aprofundamento técnico com a especialização ou residência, com o intuito de aumentar suas oportunidades de trabalho e valorização profissional. Agora, na Educação Física, o graduando ao concluir seus estudos na universidade, ganha o mesmo direito de exercer a sua profissão, mas será que ele já apresenta o grau de conhecimento que denota um especialista em uma determinada área (no caso o Personal Trainer) ? Digo isso, pois me espanta a quantidade de egressos das universidades que já estão com “o cartão de Personal” pronto antes da própria colação de grau.
Talvez esse seja o momento para maior reflexão e realmente colocar “em xeque” a nossa formação profissional, não banalizarmos uma área de grande relevância para a atuação do profissional de Educação Física, na qual implica uma profunda necessidade de um grau significativo de conhecimento para oferecer um serviço de eficiência, de maneira segura e com qualidade para os alunos que buscam melhorias para sua vida por meio do exercício físico.