Rodrigo de Amorim
Em 1997 a consultoria McKinsey, através Steven Hankin, cunhou o termo war for talent, que preconizou um cenário real nos dias de hoje. Como consultor tenho acompanhado diversos colegas relatarem a seguinte situação: Em uma ponta a falta de qualificação dos candidatos, e em outra entrevistas de emprego com ausência de 40% dos candidatos, ou seja, existe vaga, existem os candidatos, o RH entra em contato, detalha a proposta, marca uma entrevista, obtém a confirmação da mesma e mesmo assim uma parte expressiva dos candidatos não aparece no dia e hora marcada. Um amigo mais “apocalíptico” acredita que em poucos anos teremos um verdadeiro “apagão” de mão de obra. Qual leitura podemos fazer deste cenário? Voltando ao termo War fot Talent, o relatório da McKinsey previa que em alguns anos seria travada uma verdadeira batalha por talentos genuínos, por empregados qualificados, motivados ao aprendizado contínuo, porém guiados por suas convicções e propósitos. Vamos adicionar um fator para aprofundar um cenário que já é complexo. A indústria 4.0 e sua orientação para a automação. Nenhuma profissão está a salvo. Por mais que tal afirmação possa parecer assustadora e digna de um filme de ficção científica, ao menos em tese, ela já tem boa parte de sua premissa calcada na realidade. O Hospital 9 de julho, em parceria com a Microsoft, consegue prever a possibilidade de um paciente acamado se acidentar, caindo da cama, com base no histórico dos seus movimentos, cruzados com os movimentos que levam a queda, e avisar um funcionário antes que esta ocorra. A contagem de cabeças de gados, e outros animais, bem como a classificação dos mesmos, já é feita por Drone com inteligência artificial. Carros não tripulados, Chat bots, lojas de autosserviço, enfim, tudo o que puder ser facilmente automatizado será automatizado e como diz a pesquisadora Martha Gabriel: “Se você quer competir com um robô, não seja um robô.’ E o que tudo isso tem a ver com a marca empregadora? Absolutamente tudo. As previsões mais pessimistas, como a feita pelo historiador Harari (2018), prevê uma nova massa populacional que dará as caras daqui até 30 anos. A dos inúteis.
“As pessoas devem se envolver em atividades com algum propósito. Caso contrário, irão enlouquecer. Afinal, o que a classe inútil irá fazer o dia todo?”.
A criatividade, a subjetividade a serviço dos ativos intangíveis, a possibilidade do improviso e o caráter único de cada ser humano aparecem como um alento, um antidoto contra o caráter maquínico dos robôs, tais habilidades demandam tempo, dinheiro e esforços e é neste sentido que as empresas precisam desenvolver a marca empregadora. Sempre fomos hábeis na construção de marcas relevantes com o consumidor final. Este se engaja com um posicionamento, um propósito que é vivido e tangibilizado nos mais diversos pontos de contato com a marca, porém e o empregado? Desde sempre nos engajamos por pontos focais em comum, e estes pontos focais constroem os círculos sociais que ensejarão em amizades e vínculos, ou seja, o que nos une está no entorno do que procuramos e compartilhamos com o outro. O pagamento e os benefícios sempre serão importantes, porém se você tem um peixe doente dentro do aquário, convém investigar a qualidade o ambiente, neste caso a água, não somente aplicar um remédio. É no desenho do propósito da marca empregadora com os seus públicos de interesse, e na vivência desses princípios, que precisam encontrar o ambiente propício para funcionar, que a marca empregadora é semeada. Essa consciência profunda do que é a marca empregadora, e qual propósito ela pode compartilhar, que alinhará performance e imagem organizacional e a partir dela são construídos as percepções dos funcionários.