Tiago Oliveira
O estudo comparativo das capacidades atléticas de diferentes espécies é fascinante. Você já pensou no que determina a capacidade de um atleta humano conseguir aumentar em até 4 vezes a sua frequência cardíaca basal durante atividade física intensa, enquanto que um cavalo é capaz de aumentar em torno de 8 vezes essa frequência cardíaca? Como a capacidade máxima de coleta de oxigênio do pulmão do homem é de 80 ml/kg/min, sendo que um equino pode captar o dobro desse valor? Isso de uma maneira proporcional, levando em consideração o porte dessas duas espécies… ou então, o fato de um bebê recém-nascido demorar cerca de um ano para começar a dar os primeiros passos, quando o potrinho com algumas horas de vida já precisa dar os seus galopinhos.
Parte dessas diferenças pode ser explicada pela origem evolutiva dessas espécies. Os cavalos são presas na natureza, então precisam de uma adaptação rápida e eficiente para fugir quando se deparam com um predador. Isso reflete na excepcional capacidade atlética dessa espécie comparada a qualquer outra. Em uma análise muito interessante, o livro “The Athletic Horse” traz uma comparação entre as quatro espécies atléticas mais estudadas do ponto de vista da fisiologia do exercício no mundo: o atleta humano, o cavalo de corrida, o greyhound (cão de corrida) e o camelo de corrida (sim, você leu o camelo). Alguns dados curiosos trazem a comparação entre velocidades máximas alcançadas, frequência cardíaca e tipo de fibra muscular, cada espécie com sua característica dependendo da atividade que desenvolve.
Os parâmetros estudados nessas espécies são muito semelhantes, mas dados como limiar de lactato e alguns índices de desempenho precisam de muito cuidado quando extrapolados de uma espécie para outra, pois a maneira com que cada espécie utiliza os substratos energéticos se mostrou bem específica devido a diferentes hábitos nutricionais, treinamentos diferenciados e manejo específico. Entretanto, muito se aprende estudando o comportamento dos parâmetros fisiológicos nas diferentes espécies e a análise comparativa ainda trará muito avanço no estudo do exercício.
Apesar da espécie equina levar vantagem em uma avaliação comparativa, a medicina esportiva humana está muito à frente nos estudos da fisiologia do exercício em cavalos. Isso pode explicar o resultado de uma análise comparativa feita pelo Dr. Hodgson no livro acima, onde é analisada a evolução dos recordes mundiais de provas famosas na espécie humana, equina e canina. No século XX o recorde mundial em provas de uma milha (1600m) em humanos caiu cerca de 0,42 segundos por ano, enquanto no Kentucky Derby (2018m) os cavalos diminuíram o tempo em 0,11 segundos por ano e no Puppy Derby (460m) os greyhounds melhoraram o tempo em 0,04 segundos por ano. Por que o homem conseguiu melhorar seu tempo quatro vezes mais que os cavalos e 11 vezes mais que os cães?
Se você se interessou por essa temática, existe muito material para consulta disponível, como a revista eletrônica Comparative Exercise Phisiology, onde você pode ler na sequência um artigo sobre enxágue oral com carboidratos em equinos, do prof. Paulo Bogossian, e outro sobre influência do calçado na cinética femoropatelar durante atividades de corrida no homem. Acompanhe também o blog do Instituto Ensaiando o Futuro e a página do Laboratório de Medicina Esportiva Equina – USP no facebook.
Bons estudos!