Prof. Ms. Leandro dos Santos Afonso
O fenômeno do exercício físico está largamente difundido no Brasil, o número de indivíduos interessados na prática do exercício físico cresce a cada dia decorrente do maior grau de informações sobre os benefícios que essa prática pode proporcionar, com isso, o número de assessorias esportivas e academias de ginástica cresce de maneira acelerada para atender essa demanda exponencial, entretanto, esse aumento quantitativo em muitos casos não é acompanhado pelo crescimento qualitativo. A necessidade de mão de obra especializada e competente para atender essa procura pelo exercício físico orientado se faz necessária, uma possibilidade de encontrar esse profissional capacitado é consultar se o indivíduo que pretende atender o aluno que busca essa orientação é registrado no Sistema CREF/CONFEF (ressalvo aqui que esse registro é a confirmação que esse profissional apresentou os requisitos legais para ingresso nesse órgão representativo, que consiste na entrega de documentos que comprovem a conclusão do curso superior ou no caso do provisionado o exercício profissional prévio ao sistema regulatório).
O professor de Educação Física tradicionalmente era relacionado ao ambiente escolar e esportivo, mas atualmente, com a busca pela melhoria da saúde pela prática de exercícios físicos, o professor de Educação Física conseguiu o reconhecimento como integrante da área da saúde, compondo uma equipe multidisciplinar juntamente com profissionais de outras formações de origem como a Medicina, Farmácia, Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Odontologia, Psicologia, Biomedicina, Fonoaudiologia entre outras, que atuam de maneira coordenada para aumentar a possibilidade da população de uma maneira generalizada obter um quadro clínico de saúde ideal dentro das condições de cada indivíduo.
Tendo isso em mente, em qualquer ambiente no qual o professor de Educação Física esteja inserido é necessário a compreensão das reais condições de saúde do aluno que será submetido ao programa de condicionamento físico sistematizado. Com essa finalidade uma atitude indispensável é a chamada Avaliação Física, que é uma ação prudente e inteligente do ponto de vista de minimizar erros ou condutas inadequadas na elaboração da prescrição do exercício físico, por meio da observação do grau de aptidão física do avaliado nas mais diferentes características, como por exemplo, na composição corporal, nos aspectos neuromotores, na capacidade cardiovascular e respiratória, além dos aspectos clínicos relacionados ao histórico de saúde e hábitos do indivíduo, como também a motivação que o mesmo tem em iniciar o exercício físico, ou seja, os resultados obtidos em uma avaliação física tornam a tarefa da elaboração da prescrição um ato mais próximo das necessidades e anseios que o aluno precisa ou quer de acordo com as condições que o mesmo apresenta no momento dessa elaboração.
Com tudo, a preparação do professor de Educação Física para atuar na área da avaliação física, em muitas situações é deficiente, desde uma carga insuficiente na sua formação acadêmica (infelizmente muitas instituições reduziram de maneira significativa o tempo dedicado ao estudo dessa área dentro da graduação em Educação Física), passando pelo descaso do próprio graduando durante a sua formação (o qual não foi sensibilizado para a importância dessa área na sua futura atuação profissional, ou de uma forma mais clara, o aluno “passa” pela disciplina como uma obrigação curricular, mas, sem um aproveitamento real, aqui não levo em consideração a nota ou conceito que o discente recebeu, mas sim o grau de conhecimento que o mesmo adquiriu na sua formação e a sua transferência para uma aplicação prática desse conhecimento), chegando as condições nem sempre ideais para o ensino e aprimoramento dos procedimentos que compõem uma avaliação física (docente da disciplina não especializado nessa área, quantidade de equipamentos insuficiente em relação ao número de alunos, pouco treinamento prático e em alguns casos uma discussão rasa no que concerne a abrangência da avaliação física). Infelizmente, dentro desse quadro, pouco pode-se esperar que uma valorização da avaliação física no cotidiano da Educação Física aconteça, o que resulta na omissão ou mesmo na eliminação dessa ação importantíssima no e para o trabalho desse profissional (por incrível que pareça, mas há estabelecimentos que simplesmente não ofertam esse serviço, ou seja, não é realizada uma avaliação física no momento do ingresso do aluno na academia de ginástica ou assessoria esportiva), dessa maneira abrem-se lacunas significativas para identificação das virtudes a serem mantidas na condição física do aluno e nos componentes a serem melhorados visando o desenvolvimento geral do indivíduo. Agora, pense comigo, se imagine com algum desconforto que implique na busca por um atendimento médico, nesse atendimento simplesmente você não realizou nenhum exame clínico e laboratorial, mas, prontamente recebe a orientação de tomar um determinado fármaco, bem, talvez você fique assustado ou no mínimo desconfiado se o diagnóstico foi realizado com precisão, o que não é espantoso, pois, naturalmente você espera que o médico solicite alguns exames complementares para baseado nas informações contidas nos resultados desses exames ele chegar ao diagnóstico, e posteriormente, organizar a prescrição do tratamento com a finalidade de restabelecer a sua saúde. Correto ? Agora transfira essa ideia para o exercício físico e a sua prescrição, você ao chegar em uma academia de ginástica após se matricular é atendido por um professor de Educação Física que de pronto inicia a orientação dos exercícios físicos, de maneira rápida, fácil e descomplicada, dispensando qualquer necessidade de conhecer maiores detalhes da sua condição física, ou seja, sem planejar a prescrição do exercício com a devida reflexão necessária para o adequado ajuste das diferentes variáveis que compõem uma prescrição realizada profissionalmente.
A carência por professores de Educação Física capazes de realizar e interpretar uma avaliação física, resultou no natural aperfeiçoamento de profissionais com conhecimento específico e aprofundado sobre esse tema, gerando assim uma nova área dentro das academias de ginástica, com os chamados “Avaliadores Físicos”, professores que de uma maneira geral, ficam incumbidos de única e exclusivamente avaliar os alunos ingressantes e elaborar um relatório das condições dos mesmos para o professor que efetivamente acompanhará o aluno durante o treinamento físico. E periodicamente esse avaliador físico deverá realizar a reavaliação dos alunos para observar os efeitos do programa de exercício físico prescrito, de modo a identificar as possíveis melhoras e os pontos que ficaram a desejar em relação ao momento anterior ao programa sistematizado de exercícios físicos.
Mas, mesmo o professor de Educação Física que não irá se especializar em atuar na área da avaliação física, ou seja, vai atuar na área de musculação, ginástica, natação, corrida, lutas entre outras, deve possuir noções dos procedimentos realizados em uma avaliação física para que, dessa forma, possa interpretar sem dificuldades o relatório gerado pelo profissional que efetuou a avaliação física, afinal, o professor que acompanhará o dia a dia do aluno e será o responsável pela montagem do programa de exercícios físicos deve entender como se encontra o organismo desse aluno, essa atitude transmite tranquilidade na hora de poder explicar as transformações física que o indivíduo apresentará no decorrer do programa de condicionamento físico, assim, é imprescindível conseguir extrair das informação contidas no relatório da avaliação física os pontos prioritários, os que exigem maior atenção no planejamento das sessões do treinamento físico.
Fica a colocação de que quanto maior for à capacidade do professor de Educação Física em elaborar, em realizar, em interpretar, e principalmente, em utilizar a avaliação física, maior a possibilidade do sucesso do seu trabalho, pois é por meio desta que ele obtém os requisitos necessários para elaborar de maneira segura e correta a prescrição do exercício físico de acordo com os objetivos do aluno e da capacidade atual do mesmo, além de ser um recurso quantitativo e objetivo para demonstrar os efeitos provenientes do exercício físico realizado de maneira orientada, fugindo da subjetividade que reina em alguns ambientes da Educação Física e das academias de ginástica.
Como comentário final não consigo entender e nem imaginar o abandono da avaliação física pelos professores de Educação Física e instituições que atendem a demanda pelo exercício físico. Esse procedimento é parte fundamental no real cumprimento do papel do professor de Educação Física, que é oferecer o seu conhecimento para a sociedade de maneira ética, responsável e profissional, embasado em evidências científicas, com o emprego de técnicas seguras e atendendo a individualidade de cada aluno sob sua orientação.