Ronaldo Augusto Pinto Junior
As doenças cardiovasculares ocupam o topo dos índices de morbidade e mortalidade tanto no Brasil como no mundo, sendo a causa de muitas mortes e de excessivos gastos em assistência médica.
Incontáveis intervenções são realizadas no tratamento das doenças cardiovasculares, todavia, o foco desse texto será o papel do exercício físico na reabilitação cardíaca.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, reabilitação cardíaca é o acumulo das atividades essenciais para garantir aos indivíduos diagnosticados com algum tipo de cardiopatia as mais adequadas condições considerando o aspecto físico, mental e social, de maneira que possam, a partir do próprio esforço, readquirir seu posto na comunidade e adotar uma vida ativa e produtiva.
Na busca de auxiliar o alcance de tais condições de vida para o indivíduo portador de cardiopatia está a prática de exercício físico, acompanhada por ações educacionais direcionadas para a aquisição de um novo estilo de vida, por meio de programas de reabilitação que foram desenvolvidos justamente com esse propósito.
As terapêuticas adotadas hoje em dia nos programas de reabilitação cardíaca, possibilitam que boa parte dos indivíduos acometidos por infarto do miocárdio possa deixar o hospital poucos dias após o evento sem prejuízo da sua capacidade funcional, exceto aqueles com comprometimento miocárdico grave e instabilidade hemodinâmica, distúrbios importantes do ritmo cardíaco, necessidade de intervenção cirúrgica ou outras complicações clínicas.
Embora seja, o exercício físico a ação mais significativa, os programas de reabilitação cardíaca também envolvem situações que são realizadas por profissionais de outras áreas, destacando-se entre elas, a fisioterapia, a nutrição, a enfermagem, a assistência social, a psicologia, etc., buscando modificar outros aspectos que concorrem para diminuição do risco cardíaco.
O exercício físico distingue-se por uma ação que extrai o organismo do seu estado de equilíbrio em função do grande aumento da demanda energética da musculatura trabalhada e, por consequência, do organismo todo. Tal ação promove elevada liberação de calor e intensa alteração do ambiente químico muscular e sistêmico. Como resultado, a prática regular do exercício físico ao longo do tempo promove uma série de adaptações fisiológicas, tais como, as modificações referentes à função cardiovascular durante o exercício físico.
Já está descrito em inúmeros estudos acadêmicos que a prática regular de exercício físico impulsiona uma quantidade considerável de vantagens ao sistema cardiovascular. Sabe-se, por exemplo, que pessoas fisicamente ativas possuem como característica redução da frequência cardíaca, dos valores pressóricos e da exigência de oxigênio para o miocárdio em níveis submáximos de exercício. Da mesma forma, esses praticantes adquirem como consequência do exercício físico repetitivo o aumento do volume de plasma sanguíneo, da capacidade de contração do músculo cardíaco, da circulação sanguínea nas artérias coronárias e do tônus venoso periférico, além de um melhor balanço autonômico cardiovascular, em função do aumento da modulação parassimpática e da redução da modulação simpática.
Tipos de exercício
Os exercícios de maneira geral são divididos em isotônicos ou dinâmicos e isométricos ou estáticos:
O exercício isotônico ou dinâmico causa mudanças no comprimento muscular com contrações rítmicas, movimentos articulares e desenvolvimento de força. É um exercício que provoca aumento significativo no consumo de oxigênio, volume sistólico e frequência cardíaca. Com relação a pressão arterial tende a aumentar a pressão sistólica e diminuir a pressão diastólica em função da queda da resistência periférica total.
O exercício isométrico ou estático contribui diretamente para o aumento da força muscular com pequena mudança no comprimento do músculo. Durante este exercício, ocorre uma significativa elevação da pressão arterial sistólica, já a frequência cardíaca e o volume sistólico sofrem aumentos menores do que aqueles observados no exercício dinâmico.
Entretanto, na prática, a maioria das atividades físicas apresenta uma combinação destes dois tipos de exercícios.
Tipos de Treinamento
No que se refere aos tipos de treinamento, parecem estar o treinamento contínuo e o treinamento intervalado entre os mais importantes.
Treinamento contínuo: está baseado na execução contínua de exercícios por um determinado tempo, sem que haja intervalo. Caracteriza-se por um alto volume de trabalho e intensidade moderada. Este treinamento, geralmente é aplicado abaixo do limiar anaeróbio para evitar a produção excessiva de ácido láctico. Normalmente se relaciona à caminhada ou à corrida de intensidade moderada, sempre considerando o quadro clínico e a capacidade cardiopulmonar de cada indivíduo. O tempo mínimo sugerido para esse tipo de exercício varia entre 20-30 minutos por sessão de treino.
Treinamento intervalado: consiste na combinação entre a aplicação repetida de exercícios físicos e períodos de repouso ativos (com baixa intensidade) ou passivos (descanso) de forma alternada. Os intervalos ativos são comumente utilizados quando o esforço é de alta ou moderada intensidade. Quando a capacidade cardiopulmonar do paciente for baixa, podem ser usados intervalos de recuperação passiva. Em casos como esse, a alternância de cargas pode ser a forma mais segura para iniciar um programa de exercícios físicos. Com o passar do tempo, de forma gradativa, deve-se aumentar os períodos de esforço e diminuir os períodos de descanso ou substituí-los por períodos de recuperação ativa. Antes do início do período de exercícios mais intensos é adequado a realização de exercícios leves por um prolongado tempo (aquecimento). Da mesma, forma ao término da sessão é importante a realização de exercícios de baixa intensidade (volta a calma).