Tiago Oliveira
Médico Veterinário Especializado em grandes animais
Doutor pela USP
O sono é caracterizado por um complexo estado de inconsciência reversível, que traz alterações fisiológicas e comportamentais nos animais, e é regulado por impulsos homeostáticos e ciclos circadianos, sendo que o ciclo vigília-sono se realiza devido à grande interação de neurotransmissores no sistema nervoso central.
O sono é dividido, de forma simplista, em duas fases. A fase REM (Rapid Eyes Movement), ou fase paradoxal, é onde ocorrem movimentos oculares rápidos e atonia, perda do tônus muscular. Já a fase N-REM (Non-rapid Eyes Movement), é onde não ocorrem rápidos movimentos oculares, porém há hipotonia muscular e diminuição das frequências cardíaca e respiratória. Vários estudos descrevem a função essencial do sono em mamíferos. Sua importância se dá na manutenção da saúde em processos fisiológicos e metabólicos do organismo, e a falta deste gera alterações fisiológicas, inflamatórias, hormonais, de desempenho motor e cognitivo.
O cavalo, por ser a evolução de uma espécie típica de presa, adaptou seu padrão de sono dividindo-o em pequenos fragmentos. Há cerca de trinta períodos de sono – N-REM – com a duração de cerca de três a quatro minutos cada ao longo do dia, sendo que neste caso o animal descansa em estação. Porém para atingir o sono REM, ou paradoxal, o animal precisa necessariamente estar em decúbito. Esta fase também é curta e leva de três a cinco minutos para se concluir, sendo que, somadas estas fases o animal acaba dormindo por volta de três horas, ocorridas principalmente durante o período noturno.
Diversos trabalhos caracterizaram o tempo de decúbito em animais estabulados durante 24 horas e durante apenas o período noturno, sendo que o tempo de decúbito em 24 horas variou entre 8,2% e 11,5% entre os autores consultados. Já durante o período noturno esse percentual é maior, chegando a 19,9% do tempo. Entretanto, equinos podem exibir maior sonolência e menos sono profundo (N-REM e REM) quando passam a noite ao ar livre.
A maioria dos equinos entra em decúbito pelo menos uma vez ao dia quando existem condições ambientais adequadas, apesar de o decúbito prolongado poder apresentar algumas complicações cardíacas, respiratórias e compressões de órgãos e de musculatura. O equino que não tem um espaço adequado ou não se sente seguro o suficiente para deitar-se, acaba deixando de dormir o sono paradoxal. Este estresse pode causar um distúrbio comportamental do sono REM, com alterações comportamentais que podem colocar em risco a vida do animal, bem como dos seus contactantes.
Resumindo: os cavalos conseguem desenvolver parte do sono em pé, mas para atingir o sono profundo precisam se deitar e relaxar,,,
Bastos, K. C. O., Borges, N. C., & Damasceno, A. D. (2015). Distúrbios do sono: narcolepsia e distúrbio comportamental do sono REM nos animais. Enciclopédia Biosfera, 11(22), 1015–1029. Retrieved from http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Disturbios do sono.pdf
Houpt, K. A. (1980). Houpt (1980) Equine behavior.pdf. Equine Practice, 2(4), 8–17. Retrieved from https://www.paardenwelzijnscheck.nl/app/webroot/files/ckeditor_files/files/Huisvesting en beweging/Houpt (1980) Equine behavior.pdf
Orze?-Gryglewska, J. (2010). Consequences of sleep deprivation. International Journal of Occupational Medicine and Environmental Health, 23(1), 95–114. https://doi.org/10.2478/v10001-010-0004-9
Waring, G. H. (2003). Resting and Sleep. In Horse Behavior (2nd ed., p. 442). Norwich.